Maria Lopes

Maria Lopes

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Café del Mar Ι Love You






CAFÉ DA MANHÃ, por Jefrson Sartori

Mesmo calado, volto ao meu café e, num último esforço para enxergar os passos dela que a distância me permite ver.

Trata-se de um ritual, mais necessário do que sagrado em si mesmo. Chego, sento sempre no lugar habitual, em uma mesa já quase na calçada da panificadora onde tomo o meu café da manhã. Faço meu pedido à mesma atendente de todos os dias, sempre com voz sonolenta e grave arranhando um "o de sempre", no que sou atendido com um gentil "só um minutinho" dito sempre já de costas, fruto da presteza da moça.
Há uma semana essa rotina foi interrompida, como interrompido hoje foi o preparo do meu desjejum para que eu pudesse escolher o que deveria substituir o doce de leite que está em falta (meu Deus, em falta o doce de leite!).

Voltando ao que dizia, minha rotina morna e chata de cafés da manhã foi interrompida por uma imagem que nestes últimos dias atravessa meu horizonte religiosamente no mesmo horário, com passos miúdos e quase ligeiros, sempre elegantes e postura ereta.
Meu pedido chega e, novamente, a tendente faz piada com a minha "cara de bobo", sugerindo que eu deveria convidar o foco de minha admiração dessas últimas manhãs para um café um dia desses. Resmungo diante da audácia que os muitos dias no mesmo local conferiram à essa jovem moça, morena, simpática que vê mais do que uma cara de bobo sentado tomando café antes de ir ao trabalho. Embarco nos devaneios e imagino o que ofereceria à jovem que me encanta, num eventual café da manhã? Sentencio a mim mesmo: Pão de queijo! Todo bom mortal aprecia um bom pão de queijo.
Mesmo calado, volto ao meu café e, num último esforço para enxergar os passos dela que a distância me permite ver.

Se bem que a ideia por um instante me pareceu ótima, e um café inofensivo. Seriamos como Adão e Eva num Édem sem a árvore do conhecimento do bem e do mal e por isso, sem restrições; apenas pães, doces (especialmente de leite), queijo, leite e café expresso, claro. Ainda fresca em minha memória a imagem de seus cabelos curtos, olhar firme  e acastanhados expõem tão somente intrepidez, com a qual seguramente governa sua vida (e a de algum incauto que a queira possuir), mas, seu vestido estampado e sapatos de bonecas denunciam uma frágil e doce menina, brincando debaixo da fantasia de balzaquiana, o silêncio que a acompanha nessa curta passagem de todas as manhãs à minha frente denotam haver em sua alma uma solitude de menina sozinha num jardim... Sei que toda mulher é antes, essa menina que almeja um ombro a que possa reclinar sua cabeça, e ouvir coisas bobas, bobas e meigas de um homem que a cuide, que não deixa o mundo lhe fazer male talvez, um bom homem com cara de bobo.
Meu café finalmente esfria, não me importo, me recomponho, pago e entro no meu dia novamente. Vou ao trabalho, faço votos que amanhã tenha doce de leite e quem sabe, pão de queijo.
Jefrson Sartori
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